A consolidação do Estado de direito no Brasil ainda possui lacunas principalmente no que se refere à questão de segurança pública, tendo em vista que não só permanece fincada em condutas e instituições que ainda remontam ao regime militar como também enfrenta graves lacunas de investimento, as quais setorizam toda a ação no limbo da polícia, executada com ferramentas repressoras.
A Constituição brasileira de 1988 prega que é direito de todo o cidadão ter garantida a sua integridade física e individual. No entanto, esta não especifica as margens de verbas que o governo federal deve destinar à segurança pública nem tampouco deixa claro quais são suas reais funções nesse setor. E, do mesmo modo, sabe-se com propriedade que o exército brasileiro, como herança dos anos de chumbo, possui total direito de intervenção em casos que, sob o prisma dessa organização, o bem estar público se encontre ameaçado.
É interessante observar como tais fatos convergem com a situação atual.O país ainda não conseguiu elaborar uma política que conscilie com eficiência ações preventivas, capacitação de profissionais e métodos repressores. Como consequência, observa-se um desfile de conflitos entre policiais e traficantes que muitas vezes resultam na morte de inocentes e disseminam o caos entre os habitantes das favelas. Os direitos fundamentais previstos em Constituição não estão sendo cumpridos.
É preciso haver toda uma mudança de perspectivas étnicas, institucionais, financeiras, e, principalmente, na contenção de diferenças de abordagem entre civis. Isso significa congregar esforços na mudança de uma segurança pública calcada meramente na esfera policial para um novo modelo baseado na participação cidadã(a segurança individual é privilégio de todos e não apenas de grupos sociais privilegiados), no investimento massivo exclusivo do setor federal (evitar esquemas de corrupção), no respeito aos direitos humanos e a valorização da cultura da paz.
Para isso, é preciso incutir na população um espírito de discussão e reinvidicação de seus direitos. Em geral, o assunto da segurança pública só gera alarde quando vem a tona alguma tragédia, com frequencia abordada de maneira sensacionalista e maniqueísta. De uma maneira ampla, a população não está acostumada a lidar com o assunto e é alienada quando aos espectros que permeiam. O sistema de ouvidoria das delegacias federais implementado há pouco tempo, por exemplo, pouco surtiu resultado, e as pessoas nada fizeram para reverter essa conjuntura.
A sociedade urge por um ambiente de discussão democrática que abranja todas as esferas sociais e tenha grande poder de influência nos órgãos federais. Felizmente, uma iniciativa desse tipo se concretizou nos dias 27 e 30 de agosto em Brasília, no que se denominou Primeira Conferência Nacional de Segurança Públic(Conseg). Organizada pelo Ministério da Justiça, a conferência teve como proposta elucubrar uma nova política nacional de segurança pública nos níveis municipal, estadual e nacional, com a participação, a nível de igualdade, de gestores, trabalhadores da área e sociedade civil, cujas opiniões muito provavelmente nunca seriam ouvidas não fosse a conferência.
A resolução para a problemática da segurança pública aponta para rumos positivos. Contudo, é preciso focar energias para garantir a continuidade de projetos, a eficiência do Estado e a disseminação da consciência cidadã na população.
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
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Olá, Camila.
ResponderExcluirGostei muito da idéia do blog e dou-lhe o maior apoio.
Este primeiro texto ficou muito bom e traz à tona questões muito importantes e muito bem argumentadas. Contudo, tenho que discordar em um único ponto. (Afinal de contas, eu mantenho o bom hábito de velho modelista de ser o chato que sempre discorda)
Você defende que uma possível solução para o problema da segurança pública no Brasil seria o "investimento massivo exclusivo do setor federal". A meu ver, a solução está exatemente no caminho contrário. Investimentos mais localizados em nível estadual e municipal podem ser muitas vantajosos, pois essas esferas têm acesso a informações mais específicas e podem responder mais rapidamente aos problemas que enfrentam.
As grandes cidades, há algum tempo, aumentam o orçamento destinado às guardas municipais, que passaram a fazer rondas com o porte ostensivo de arma. Fazer melhor uso das guardas municipais, intrumento muito importante nas cidades com maior orçamento, pode auxiliar a patrulhar áreas específicas e ligadas à prefeitura, como escolas, creches, hospitais e obras municipais geradoras de emprego na construção civil. E é garantido a segurança destes itens, que são o verdadeiro Estado e a verdadeira segurança pública, que se pode alcançar níves mais baixos de criminalidade.
Uma polícia ligada ao estado é importante para garantir a segurança, em especial, das cidades cujo orçamento é insuficiente para sustentar um forte guarda municipal. Além disso, esta ainda usufrui do acesso rápido a informações locais, detalhadas e específicas.
Também é importante destacar que um agente de segurança que trabalhe em sua própria terra natal (cidade ou estado) está diante de incetivos mais fortes para agir de maneira adequada devido aos vínculos que construiucom a região ao longo de sua vida.
De forma alguma, desmereço a função da União. Está é de extrema importância sobretudo na área de inteligência. O setor federal devido a sua grande capacidade financeira, técnica e computacional deve trabalhar na área de informação e contra-informação, buscando eliminar as grandes rotas do tráfico.
O que pensa sobre esse outro lado?
Beijos,
Vítor Possebom.
Vítor,
ResponderExcluirconcordo com a sua posição em parte. Investimentos locais seriam de fato muito benéficos se não houvesse corrupção e desvio de verbas. Li entrevistas de muitos policiais que reclamavam do problema e defendiam um investimento exclusivamente federal... O que acha disso?
um beijo